“Somos seres sociais. Nossa sobrevivência depende de compreendermos as ações, intenções e emoções dos outros. Os neurônios-espelho nos permitem compreender a mente de outras pessoas, não apenas por meio do raciocínio conceitual, mas também por meio da imitação. Sentir, não pensar.” – Giacomo Rizzolatti Neurocientista Sênior que ajudou a descobrir neurônios-espelho.
A empatia é crucial na vida social. É a capacidade de reconhecer, compreender e compartilhar sentimentos uns com os outros. Esta capacidade de ir além de nós mesmos e ver as perspectivas dos outros nos motiva e nos ajuda a cooperar e a construir relacionamentos dentro das nossas comunidades e da sociedade como um todo.
A forma que percebemos automaticamente as emoções de outras pessoas através da empatia tem sido uma questão intrigante na filosofia da mente e, mais recentemente, nos estudos de neurociência e cognição social.
Empatia Humana: O Sistema de Neurônios Espelho e EEG
Um marco foi alcançado no estudo da empatia há cerca de vinte anos, quando neurocientistas da Universidade de Parma, entre eles Giacomo Rizzolatti, descobriram um aglomerado de neurônios no cérebro do macaco que disparava quando o macaco era ao mesmo tempo o ator e o observador da mesma ação (di Pellegrino et al., 1992). Foi surpreendente como os neurônios motores, antes considerados responsáveis apenas pelas próprias ações, também estivessem ativos quando se observava a ação de outro ser.
Os pesquisadores chamaram esses tipos de células cerebrais de “neurônios-espelho”, para explicar suas características de espelhamento. Descobertas semelhantes foram repetidas em estudos humanos, mostrando um sofisticado sistema de neurônios-espelho presente em todos nós.
As descobertas mostraram que quando observamos alguém realizando um ato direcionado a um objetivo, os neurônios motores que mapeiam exatamente os mesmos grupos musculares que usaríamos se fizéssemos o mesmo movimento aumentam a excitabilidade, o que significa que se tornam ativos.
Nas palavras dos autores Vittorio Gallese e Alvin Goldman, “toda vez que olhamos para alguém realizando uma ação, os mesmos circuitos motores que são recrutados quando nós mesmos realizamos essa ação são ativados simultaneamente” (Gallese & Goldman, 1998, p.3).
Os pesquisadores propuseram que a função desse sistema de neurônios-espelho é detectar os estados mentais de outros organismos no ambiente, simulando seus movimentos. Vittorio Gallese desenvolveu então uma teoria que propõe o sistema de neurônios-espelho como mecanismo de empatia. A teoria da simulação da empatia sugere que os neurônios-espelho nos permitem simular a ação de outra pessoa, o que nos leva a sermos capazes de compreender a intenção por trás de seu comportamento evidente, de imitá-la e, finalmente, de ter empatia por ela.
Como podemos estudar empatia – “Ondas Mu”
Para estudar a empatia e a atividade dos neurônios espelho em humanos sem métodos invasivos ou tecnologias caras como fMRI, o EEG surge como uma alternativa conveniente e acessível. Este método permite medir a atividade dos neurônios espelho de forma não invasiva.
Pesquisadores descobriram que um ritmo alfa específico, presente em regiões específicas do cérebro, está associado à atividade dos neurônios-espelho. Este ritmo, conhecido como “Onda Mu”, é observado quando uma pessoa está em repouso, tanto física quanto mentalmente.
De maneira interessante, a onda mu é suprimida durante a realização de movimentos e desaparece quando observamos outra pessoa executando uma ação, refletindo a característica de espelhamento.
Uma meta-análise conduzida por Fox e colegas em 2016 analisou 85 estudos que mediram a onda mu, encontrando tamanhos de efeito significativos para a supressão da atividade mu durante a execução e observação de ações.
Esses resultados sugerem que a supressão da onda mu é um método válido para sondar a atividade dos neurônios espelho em certos paradigmas. Além disso, estudos sobre o autismo fornecem mais evidências sobre a importância da onda mu.
Foi observado que pessoas com transtornos do espectro do autismo não exibem supressão mu em tarefas de observação de ação e empatia, indicando uma atividade anormal de neurônios-espelho nesta população.
Por exemplo, em um estudo altamente citado, Oberman e outros em 2005 documentaram que indivíduos com transtornos do espectro do autismo não mostravam supressão mu ao observar movimentos das mãos, ao contrário dos controles saudáveis.
Descobriu-se que a falta de atividade dos neurônios-espelho é especialmente prevalente em pessoas desconhecidas para indivíduos com autismo, enquanto controles saudáveis mostram atividade de neurônios-espelho independentemente de conhecerem ou não a pessoa observada.
Implicações de pesquisa de Ondas Mu
Numa perspectiva aplicada, a onda mu pode ser usada de maneiras interessantes e inovadoras, como para quantificar a identificação social em relação a um personagem em um anúncio, uma série de TV ou um filme. Na verdade, uma das primeiras descrições da onda mu veio de um estudo que demonstrou exatamente esse efeito de identificação cinematográfica (Gastaut & Bert, 1954).
Os pesquisadores teorizaram que a onda mu pode ser um índice que mostra o quanto um observador se relaciona com o ato observado. Por exemplo, campanhas de doação e causas sociais poderiam ser testadas quanto à sua eficácia em termos de quanto envolvimento elas provocam nos espectadores.
Também há promessas no desenvolvimento de interfaces cérebro-computador (BCI) para que aqueles gravemente paralisados ou deficientes possam se comunicar e se mover melhor com as máquinas.
A capacidade de imitar movimentos nesta região do cérebro que podem ser lidos por biossinais que se comunicam com o hardware, poderia ajudar na mobilidade, nas máquinas e na robótica (Pfurtscheller, Gert & Neuper, 2010). Embora esta tecnologia esteja em fase experimental, suas aplicações podem ser usadas em outras disciplinas de interações homem-máquina, como jogos de RV, simulações, fisioterapia, psicologia, ciências sociais e outras disciplinas da neurociência.
Aplicação da neurociência da empatia humana
Resumidamente, o funcionamento dos neurônios-espelho em humanos e a descoberta da onda mu para estudar a empatia são marcos marcantes na neurociência social.
Embora as descobertas iniciais nas últimas décadas sejam impressionantes, há muitas questões sem resposta nesta área. Por exemplo, até que ponto os neurônios-espelho são disfuncionais em populações que sofrem de problemas de mentalização e empatia, como no autismo grave, nas personalidades narcisistas e psicopatas?
Que tratamentos e intervenções podem ser usados para aumentar a atividade dos neurônios-espelho, potencialmente para aumentar a empatia? Estas questões exigem mais pesquisas neste campo, entretanto, é incrível pensarmos quão grande é o potencial de exploração que temos na comunicação, se fazendo valer de neurônios-espelho e da neurociência da empatia humana.